sábado, 11 de fevereiro de 2017

Resiliência


A história desta planta remonta aos principiados da minha residência no reino dos algarves, na segunda casa para onde me mudei e onde resido agora, com algumas outras tocas intermitentes, mas que se mantem constante paralela ao meu conceito de lar.

Esta planta cresce de um encaneamento na varanda da cozinha. Encaneamento é um palavra grande para buraco. É um buraco de onde sai um cano, que serve para batizar os andares de baixo com qualquer liquido que despejemos na varanda.
O cano é nojento. Está sempre cheio de bolor, por mais que seja limpo, e atolado com tanta porcaria focilizada que se me deitar de rabo no ar a espreitar por ele, vê-se assim uma luz minúscula ao fundo do tunel.
E no entanto cresce de lá esta planta, há mais de sete anos. Quase em angulo recto com a linha vertical do edificio, como se o desafiasse a ele e às leis básicas da gravidade a terem mais direito de existir do que ela.
Não sei de que semente é que nasceu, nem quem é que a lá pôs, se o vento, se um pássaro, se eu própria arrastei para dentro do cano alguma coisa, agarrada à sola de um sapato. Não sei que planta é que é, nem me interessa saber. Não é uma planta bonita. Eu nunca lhe deitei água, nem lhe limpei as raízes. Às vezes só me lembro que ela é uma realidade quando por alguma razão qualquer vou à varanda da cozinha e olho para baixo.
E é nesse momento, no momento em que olho para baixo, e vejo o quanto cresceu (porque ela nunca parou de crescer, nunca, desde a primeira vez em que se notou um pequeno caule verde a brotar do cano) que me apercebo que esta planta francamente sem graça e comum foi das únicas constantes na minha adolescência. Esta planta nunca quis saber de mim mais do que eu quis saber dela, e no entanto ambas crescemos, estranhas e vulneráveis mas debilmente orgulhosas.
Se estou hoje aqui sentada a escrever estas baboseiras é porque, por vezes, na minha condução desnorteada pelo passar dos anos, pensei para comigo mesma, se ela consegue, eu também consigo. Ela ainda consegue, portanto eu claramente vou conseguir. Um dia esta planta há de ser uma autentica árvore e eu, talvez, hei-de ser uma adulta auto-sustentada que já não precisa de se comparar a plantas para arcar com a vida.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Espaço

o meu próprio nome facilita à divisão da minha pessoa. a maria não é a ana. a maria existiu em alturas diferentes da ana. a maria é para uns o que a ana é para outros. f*da-se. tou f*dida.

enquanto vejo a única mulher

o eu não é o eu. o eu é o fingir do tu, e não o contrário. o tu do eu importa mais do que o eu do tu. o nós é a subjugação dos dois. o nós não interessa ao tu, porque o próprio nós tem um tu de si mesmo. o nós são milhões de eus, que são ainda mais milhões de tus. mas todos estes não são nada, não existem. zero vezes zero é zero. o objectivismo morreu quando pensar significou existir.